quarta-feira, 10 de outubro de 2007

O ATO DE ENCANTAR COM HISTÓRIAS

por SARAY AZENHA ROSA - Professora e contadora de histórias

No exercício de contar histórias percebi que as crianças que entram em contato com a mágica do conto se prendem ao contexto e se identificam com a história contada produzindo uma experiência particular e pessoal.
Ouvir permite que a história vá sendo construída pela imaginação de cada um.
Ao narrar um conto, por exemplo, possibilitamos ao ouvinte construir sua própria história, criar seu cenário, suas músicas, seus significados.
Nunca o ser humano sofreu tanto com ideais de felicidade impostos pela mídia; nossas fadas, hoje, são arquétipos de uma beleza artificial como a Barbie, tão famosa em nossa geração.
Ao contar uma história percebo ser o protagonista do ERA UMA VEZ, do agora onde se dará o poder imaginário do ser humano.
Por isso contar histórias difere do ato de ler histórias.
Ao ler um texto não nos preocupamos com seu encantamento, simplificamos a narrativa ou nos prendemos à organização textual, enquanto contar histórias é uma arte que pede atitude poética envolvendo o sujeito ouvinte.
As crianças hoje precisam dessa experiência por viver constantemente em contato com imagens estereotipadas e campanhas publicitárias. Segundo Bettelhein a literatura infantil seria a construção do indivíduo, assim a criança em contato com as histórias do mundo, e de sua própria cidade, passa a ser agente de sua própria formação e compreende a multiculturalidade.
Vemos que os problemas que afligem as pessoas não estão restritos a um só lugar e sim ao mundo todo, praticamente todas as camadas sociais passam a experimentar uma ansiedade permanente sobre o presente e o futuro. A possibilidade do desemprego, a insegurança diante da violência onipresente, a preocupação com o desamparo em caso de doença ou a chegada da velhice, as dúvidas sobre o futuro dos filhos, tudo isso forma um cotidiano de problemas que a todos aflige.
Desaparece a idéia de que a vida pode e deve ter um horizonte amplo, sólido e aberto. Em seu lugar, predomina a sensação de insegurança e desamparo.
A contação de histórias não reverte problema algum, mas auxilia a sonhar, a crer. Possibilita ao ser humano vislumbrar o maravilhoso.
As obras da literatura infantil, como aponta Ítalo Calvino, se "impõem como inesquecíveis. Quanto mais pensamos conhecer por ouvir dizer, quando são lidas, de fato, mais se revelam novas, inesperadas, inéditas”.

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