Como o jovem brasileiro se comporta em relação à sexualidade, emoções, violência, uso da internet, consumo de álcool, cigarro e outras drogas? Oito anos depois de sua primeira edição, o projeto "Este Jovem Brasileiro", desenvolvido pelo Portal Educacional em parceria com o psiquiatra Jairo Bouer, repetiu os temas e metodologia da pesquisa realizada em 2006, e agora compara e revela o que mudou no comportamento dos jovens.
As diferenças mais notáveis entre as duas edições estão nos campos da sexualidade e da violência. No primeiro, aumentou o número de jovens que não usam preservativo durante as relações sexuais – em 2006, 78% tinham usado camisinha na primeira vez e 61% diziam usá-la sempre, enquanto neste ano essas proporções caíram para 71% e 54%, respectivamente. “Parece que menos gente está se protegendo e usando camisinha desde o início da vida sexual e, com regularidade, o que pode refletir em maior exposição a risco de DSTs e de gravidez indesejada”, alerta Jairo Bouer. O projeto "Este Jovem Brasileiro" tem como objetivo conhecer o comportamento dos jovens e refletir, junto com eles, com a comunidade escolar e com os pais, sobre assuntos cruciais para a vida deles. Este ano, quase 6 mil estudantes de 12 a 17 anos, do 8º ano ao ensino médio, de 64 escolas particulares sem diversas partes do país participaram da pesquisa. Os estudantes responderam anonimamente a um questionário on-line com questões de múltipla escolha, e os resultados foram avaliados por Jairo Bouer e por Patricia Sprada, coordenadora dos projetos colaborativos da Divisão de Tecnologia Educacional da Positivo Informática. Segundo Patricia, os dados obtidos mostram alguns pontos frágeis que merecem reflexão.
Os dados referentes à violência mostraram uma pequena melhora em relação a 2006, com menos jovens que já se sentiram ameaçados ou foram insultados no ano anterior à pesquisa (19%, contra mais de 25% há 8 anos) ou se envolveram em brigas (17% contra 21%) em 2013. Ainda assim, a violência segue como um fenômeno relativamente frequente na vida do jovem, podendo ser ele vítima e ator desse processo. “Pelo impacto que as múltiplas formas de violência têm em sua vida, é importante que a escola reforce essa discussão e pense em formas de se evitar esse tipo de comportamento”, comenta Bouer.
Um terceiro ponto que merece atenção é quanto ao consumo de maconha. Embora a proporção de jovens que já a experimentaram tenha se mantido em 10%, houve aumento na faixa dos que provaram a droga entre os 12 e 13 anos (22% em 2013, contra 18% em 2006), e entre os que a fumam todos os dias (18%, contra 14% há oito anos).
Relacionamentos, Sexo e Gravidez
A pesquisa mostra que 76% dos jovens já “ficaram” com alguém pelo menos uma vez na vida, sendo que 36% já tinham “ficado” com mais de 10 pessoas e apenas 16% estavam namorando no momento em que responderam ao questionário. Na comparação com 2006, 86% já tinham “ficado” pelo menos uma vez, quase 50% já haviam beijado mais de 10 pessoas e 20% estavam namorando. Bouer argumenta que a diferença entre os dados pode estar relacionada à faixa etária das amostras de 2006 e 2013. Este ano, quase 25% dos jovens tinham 12 e 13 anos, enquanto há oito anos eles correspondiam a pouco mais de 10% do total de entrevistados.
Sobre a sexualidade, 17% afirmaram já ter tido relações sexuais, e a maior parte teve a sua primeira vez entre 14 e 15 anos. Entre os maiores de 17 anos, 54% já tinham feito sexo. A maior parte das garotas teve relações sexuais com parceiros fixos, provavelmente namorados. Já a maior parte dos garotos considera que teve mais relações com parceiras eventuais. Em 2006, 18,5% dos entrevistados já tinham tido relações sexuais, uma pequena diferença a mais que pode ser explicada pelo maior número de participantes de 12 e 13 anos na amostra deste ano.
Do ponto de vista de prevenção, a diminuição no uso do preservativo não era esperada, segundo Patrícia Sprada, da Divisão de Tecnologia Educacional da Positivo Informática. Em contrapartida, 45% fazem uso de outros métodos anticoncepcionais, frente a 38% registrados em 2006, e a grande maioria utiliza pílula anticoncepcional – quase 82%, menos que os 90% de 8 anos atrás. Entre as garotas que já fizeram sexo, 44% já acharam que poderiam estar grávidas, e desse total 32% recorreram à pílula do dia seguinte. “A quantidade de gestações aumentou um pouco em oito anos – de 7,5% a 9%, o que pode ser relacionado à diminuição do uso da camisinha”, considera Patrícia.
Internet
Quanto ao uso da internet, os dados de 2013 são muito semelhantes aos de oito anos atrás: hoje 96% dos jovens usam Internet para se comunicar, a maior parte fica conectada de duas a três horas por dia da semana e mais de cinco horas nos finais de semana. Mas houve um certo aumento nos casos de uso exagerado da rede - 60% já passaram uma noite em claro na internet, 57% já deixou de sair ou estudar e 58% já se sentiram “viciados” na rede (mulheres mais do que homens, 63% contra 52%).
Violência, álcool, cigarro e drogas
No quesito violência, embora menos jovens tenham se sentido ameaçados e se envolvido em brigas, a porcentagem de quem já foi vítima de violência em algum momento da sua vida se manteve em 35%, assim como a de quem já se sentiu forçado a fazer sexo contra sua vontade (4%), sendo que esse número é igual entre homens e mulheres.
Quanto ao consumo de álcool, os números sugerem um comportamento um pouco mais cuidadoso do jovem em 2013: 62% dos participantes já beberam pelo menos uma vez na vida. Entre os menores de 14 anos este índice é de mais de 50%, e chega a 84% entre os maiores de 17. Quase um terço dos jovens já passou mal pelo consumo excessivo de álcool. Oito anos atrás, 75,5% dos jovens já haviam bebido pelo menos uma vez na vida e 40% já haviam tomado um porre.
Apesar das campanhas contra o tabaco, o cigarro ainda provoca curiosidade entre os jovens. Entre os entrevistados, 16% já experimentaram cigarro, número que sobe para 32% levando-se em conta apenas os estudantes de 17 anos. A maior parte começou a fumar entre 12 e 15 anos e o consumo é frequente para quase 10%. Mas o quadro melhorou significativamente em relação a 2006, quando 26,5% dos jovens já tinham experimentado o cigarro, mais da metade dos maiores de 16 já haviam fumado e o consumo era frequente para quase 12,5%.
Em relação às drogas, se registrou o aumento dos jovens que consomem maconha frequentemente – 18%, índice proporcionalmente maior do que o percentual de usuários frequentes entre os que fumam cigarro de tabaco. A maioria dos que fuma maconha divide esse comportamento com os amigos. Além da maconha, as outras drogas ilícitas mais experimentadas foram o lança-perfume e as sintéticas, enquanto entre as drogas lícitas (medicamentos) mais citadas estão os calmantes e os remédios para controle de hiperatividade e atenção.
Emoções e sala de aula
Quando se trata de emoções, ansiedade (47%), irritação(44%) e dificuldade de concentração(49%) são aquelas que parecem incomodar mais os jovens, seguidas de tristeza e o desânimo (30%). Na sala de aula, além do problema de concentração, 35% dizem ter dificuldade para entender a aula e 13% referem que já foram reprovados. O quadro é bastante semelhante ao registrado na pesquisa de 2006.
Para Bouer, a ansiedade e a dificuldade de concentração são fenômenos comuns no jovem de hoje, e especialistas discutem, inclusive, o peso que o excesso de tempo na rede e as suas múltiplas possibilidades de interação teriam na dificuldade do jovem de hoje de focar em um único estímulo.
Bouer também vê uma relação entre quem já experimentou maconha e as mudanças nas emoções. “O uso da maconha parece aumentar ansiedade, tristeza e desânimo, dificuldade em se concentrar e entender a aula, afetando o rendimento escolar. A pesquisa mostra que o índice de reprovação chegou a 31% entre os que já fumaram. Ou seja, maconha e rendimento na escola parecem definitivamente não combinar”, comenta.
Satisfação com o corpo e felicidade
A pesquisa também ouviu os jovens sobre sua relação com o próprio corpo e a felicidade. Em 2013, 63% dos rapazes se disseram satisfeitos com seu corpo, enquanto só 40% das garotas responderam o mesmo. Uma diferença que aumentou em comparação com os dados de 2006 – 62% e 44%, respectivamente. “O índice crescente de insatisfação feminina pode apontar maior pressão social para que as mulheres tenham o corpo perfeito, o que aumenta o desejo de mudar e buscar metas muitas vezes inatingíveis”, diz Bouer.
A grande maioria dos jovens – 84% – se considera feliz na maior parte do tempo, apesar dos sintomas e emoções desagradáveis apontados por muitos deles. Em 2006, esse índice era de 87%.
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